Alex Domingues
Câmera escondida, coragem na caneta e a transparência que não pode falhar
A ex-procuradora jurídica da Câmara foi demitida por instalar uma câmera escondida dentro da própria sala de trabalho

Dizem que “quem não deve, não teme”. Mas em Mandaguari, parece que o bordão da vez é: quem instala câmera escondida, vira vítima na internet.
Nos últimos dias, a demissão de uma procuradora da Câmara virou o novo roteiro de novela política da cidade. Segundo alguns grupos de Zap — aqueles mesmos que dormiram em berço esplêndido nos escândalos reais —, a servidora foi “perseguida”, “injustiçada”, “expulsa” de forma arbitrária. Só faltou colocarem ela de mártir no altar do Jornalismo de Clamor.
E pra completar a cena, no mesmo dia da apreensão da câmera — pasmem — o filho da servidora encenou um atropelamento na porta da Câmara, numa performance tão bizarra quanto hilária. Sim. O rapaz se jogou na frente do carro da policia civil, gritou, rolou, e tudo foi filmado como se fosse um episódio ao vivo de “Casos de Família: Versão Legislativa”.
Mas, antes de rezarmos para "muié", vale lembrar o básico: colocou uma câmera escondida no local de trabalho, sem autorização, sem aviso, sem protocolo. Isso num órgão público, num prédio institucional, onde a confiança e o decoro não são só valores — são pré-requisitos. Isso não é “segurança”, é no mínimo questionável e no máximo, passível de punição, como prevê a bendita da lei.
E sim, teve comissão. Sim, teve parecer pelo arquivamento. Mas parecer é recomendação, não sentença divina. O presidente da Câmara tem a prerrogativa de decidir — e decidiu. Fez o que muito gestor por aí evita: assumiu a bronca, peitou o desgaste e demitiu quem ultrapassou os limites da razoabilidade administrativa.
A reação foi previsível: algumas pessoinhas magavilindas — aquelas que adora sangue, mas só quando convém — soltou a manchete em caixa alta. Denúncia! Injustiça! Abuso!
Mas cadê essa mesma indignação quando o assunto era nepotismo, vereador com jornada dupla, ou que defende opnião mais hora de votar some?
Ah, esqueci: isso não gera clique. Agora, criar um drama de "Davi contra Golias" com servidor público? Isso dá audiência e, de quebra, um alfinete no rival político.
O problema é que nesse jogo de versões, quem perde é o bom senso.
A decisão da presidência foi legal? Sim.
Foi firme? Muito.
Correta? Tudo indica que sim.
Mas tem um detalhe que não pode ser varrido pra debaixo do tapete vermelho da moralidade: a recusa em fornecer cópia do processo administrativo.
A LAI — Lei de Acesso à Informação — é claríssima: documentos públicos devem ser acessíveis à sociedade, especialmente quando envolvem agentes públicos e decisões administrativas relevantes.
Negar acesso ao processo com a justificativa de “documento interno” abre brecha pra desconfiança — e alimenta justamente as narrativas distorcidas que a decisão da presidência tenta combater.
Transparência? Que se cobre com seriedade, com documentos, com responsabilidade. Mas não com julgamento de mídia, com narrativa pronta e com torcida organizada por likes.
Mas fica tranquilo que quem age com firmeza também pode agir com transparência — e vai. Só não precisa abrir as pernas pro primeiro fuxico da oposição com sede de pauta.
No fim, o que temos é um presidente que fez o que tinha que fazer, uma servidora que vai buscar seus direitos, e o palmeiras continua sem mundial...
Alex Domingues (Alex Padre) é jornalista, colunista, repórter de rua e palpiteiro profissional. Especialista em transformar burocracia em entretenimento e fofoca política em informação com veneno.
Se for pra passar pano, que seja no vidro da câmera.
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